Análise | Explicando a diferença entre Hamilton e Russell

A disputa entre Lewis Hamilton e George Russell era um dos principais assuntos na Fórmula 1 antes do início da temporada de 2022. Como seria a relação entre eles? Quem seria o melhor? Quem conseguria desafiar Max Verstappen e a Ferrari? Quem poderia ser campeão mundial? Essas e outras perguntas foram feitas durante a transição da temporada de 2021 para 2022.

Mas essas perguntas foram imediatamente jogadas no lixo quando a Mercedes saiu da garagem para os testes de pré-temporada no Bahrein. Ao invés de se preocupar com a disputa entre seus pilotos, a Mercedes precisava encontrar uma maneira de resolver seus problemas e melhorar o seu desempenho. A história parece se repetir em 2023, mas ainda vale a pena conferir como está a disputa entre Russell e Hamilton.

A dupla de pilotos já participaram de 25 Grandes Prêmios juntos. Russell lidera o duelo de classificação e também já terminou à frente de Hamilton mais vezes do que o contrário. O piloto mais jovem lidera as duas estatísticas por um placar de 13-12.

Embora nós nunca tenhamos visto os dois pilotos disputando ponta a ponta a pole position ou uma vitória na corrida, tudo aponta para Russell como tendo uma (muito pequena) vantagem. Afinal, ao longo deste tempo em que estão juntos, Russell conquistou uma pole position, uma vitória em corrida sprint e uma vitória na corrida principal (Brasil). Devido à pequena diferença entre os dois, ainda é quase impossível tirar quaisquer conclusões. Até aqui em 2023, Russell ficou na frente em todas as três sessões de classificação, e ele possivelmente teria vencido Hamilton na Austrália se não tivesse a primeira bandeira vermelha e depois o problema no motor.

No entanto, podemos dizer com confiança que Russell está significativamente acima em comparação com Valtteri Bottas. O piloto finlandês terminava à frente de Hamilton uma vez a cada três corridas, e na classificação não era muito diferente.

Olhando a telemetria

Na Austrália, Russell ficou 0,136 segundo na frente de Hamilton na classificação. Sem dúvida, esta foi uma das sessões de classificação mais significativas para os dois pilotos desde que eles se tornaram companheiros de equipe. Com a Ferrari fora do jogo e Sergio Pérez sendo eliminado no Q1, o resultado lhes garantiu um lugar na frente do grid ao lado de Verstappen.

Se olharmos mais afundo na telemetria, há uma explicação clara para a diferença entre os dois pilotos. Hamilton é mais rápido nas retas, mas Russell é muito melhor nas curvas. Em uma única volta de classificação, isto acaba sendo uma vantagem para o britânico mais jovem, já que os carros passam mais tempo nas curvas.

A corrida pode ter favorecido um pouco mais Hamilton porque as ultrapassagens são possíveis com quatro zonas de DRS e o vácuo. Foi assim que a Ferrari terminou com mais pole positions em 2022 em comparação com a Red Bull, que ainda conseguiu vencer confortavelmente o campeonato.

Pouco antes do ponto de frenagem na curva 9, Hamilton atingiu um pico de 324km/h em comparação com os 320km/h de Russell. Em uma extensão ligeiramente menor, isto se espelha durante a maioria de suas voltas de classificação mais rápidas. Por exemplo, no início da zona de DRS entre a curva 8 e 9, Russell tem uma vantagem de 0,260 segundo, que Hamilton corta para 0,106 segundo no ponto de frenagem.

Por outro lado, Russell poderia carregar uma velocidade mínima mais alta nas curvas. Isto é melhor destacado na chicane das curvas 6 e 7, onde a velocidade mais lenta de Hamilton é cerca de 10km/h mais lenta do que a de Russell.

Diferente na Arábia Saudita

A pista de Jeddah é o circuito de rua mais rápido que a Fórmula 1 visita. As velocidades médias na classificação são superiores a 250 km/h, com os pilotos subindo acima de 310 km/h em três ocasiões durante uma única volta rápida. Mais de 80% da volta é feita com o pé embaixo, e muitas das curvas podem ser feitas sem precisar freiar muito, dado o ângulo suave.

Parece que Russell tirou o máximo proveito dessa vantagem. O piloto britânico mais jovem foi capaz de alcançar velocidades máximas mais rápidas do que Hamilton. O heptacampeão mundial ganhou algum tempo nas curvas, por exemplo, na curva 15 e 16, onde ele ganhava quase um décimo. Mas nunca será suficiente em Jeddah para cancelar o desempenho em linha reta, dadas as características únicas.

E na Austrália?

Considerando tanto a Austrália quanto a Arábia Saudita, Hamilton errou no ajuste de classificação. O próprio piloto admitiu na Arábia Saudita que tinha se enganado no acerto. "O acerto realmente não funcionou para mim. Se eu tivesse o acerto que George tinha, eu me colocaria em uma posição melhor", disse Hamilton à Sky Sports.

No entanto, as coisas foram diferentes na Austrália. Isso não o ajudou a vencer Russell na classificação, mas a corrida foi diferente. Nós só temos as primeiras seis voltas devido a parada nos boxes de Russell no início da corrida e a subsequente bandeira vermelha. Mas Russell ampliou para 2,3 segundos de vantagem na primeira volta, e Hamilton diminuiu para 0,637 segundo na sexta volta. Hamilton tinha a vantagem do ritmo e teria feito uma ultrapassagem, com toda a probabilidade.

Russell abandonou a corrida, então não foi possível fazermos outras comparações. Ignorando Verstappen, já que o holandês estava em uma categoria própria, Hamilton e Alonso tiveram um duelo pelo 2º lugar. Em todas as vezes que Alonso ficou dentro do espaço de um segundo e, portanto, dentro do alcance do DRS, como por exemplo na volta 17, quando a diferença era de oito décimos, Hamilton subia o ritmo e aumentava a vantagem. Na volta 18, Hamilton abriu 1,5 segundo. Isto mostra que Hamilton tinha a vantagem do ritmo e estava relativamente tranquilo na 2ª posição.

Tudo isso significa que os dois companheiros de equipe da Mercedes possuem ritmos muito parecidos. Então, em 2023, a configuração do carro para o fim de semana será muito importante nesta disputa, e ambos precisam estar trabalhando juntos para ajudar a equipe a melhorar seu desempenho.